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4 de mar. de 2014

Uma Análise Sobre o Antigo e o Novo Robocop

Olá pra vocês! Espero que estejam muito bem.
A postagem de hoje vai fazer eu me sentir muito mais velho do que sou. Veja bem, eu SEMPRE falo sobre coisas que foram criadas muito antes de eu nascer como se tivesse testemunhado sua estréia no mundo, mesmo que a maioria delas eu apensas tenha conhecido através de VHS/DVD/Pirate Bay etc.

Eu nasci na década de 90 e até meados dos anos 2000 eu era uma criança estranha e medonha que conhecia vagamente algumas coisas da cultura pop, hoje eu sou um adulto estranho e medonho que conhece vagamente uma vida social saudável e cria postagens sobre coisas estranhas e medonhas neste blog estranho e medonho para pessoas.... lindas e... cativantes.... ^ ^

E desde pequeno eu conheço Robocop, claro que não fazia muita distinção entre a qualidade do primeiro ao terceiro filme, mas hoje é claro que vou analisar o único que pode ser realmente considerado um filme marcante e até mesmo formador de opiniões que é o primeiro dirigido por Paul Verhoeven.


Robocop saiu em 1987 e contava a historia de Alex Murphy, um policial da obscura e suja cidade de Detroit, que acaba morrendo e tendo seu corpo completamente destruído em um tiroteio contra uma gangue. Os restos de Murphy são imediatamente mandados para fazerem parte de um projeto da nova corporação que agora tem total controle sobre as forças policiais de Detroit, a OCP (Omni Consumer Products), que pretende criar uma nova cidade em cima da velha Detroit chamada Delta.
Murphy acorda então como uma máquina, construída junto de alguns dos seus restos mortais, porém tendo somente seu rosto com aspecto humano, todas as suas emoções foram retiradas e dele restou apenas seu trabalho como um policial, agora blindado e incansável.

Robocop era um filme que usava de uma frieza absurda para uma produção tão abrangente, não se tratava de um filme B, era um projeto ambicioso porém de orçamento modesto que trazia uma crítica ao imperialismo que marcaria uma geração inteira, e curiosamente (mas sem nenhuma surpresa) um público infantil considerável, o que rendeu duas continuações água com açúcar.

A forma como tudo parece ser manipulado pelo presidente da OCP com aquela crueldade e superficialidade direcionada a importância à vida humana faz você pensar no quão próximos de bonecos nós somos para algumas corporações. O filme também flerta com a hipocrisia e cinismo do povo americano, mostrando notícias e um programa de humor nas TVs da cidade, onde tudo parece sensacionalista, alterado e coisas que deveriam ser sérias se tornam piada para o povo.
 

Quanto ao protagonista, pode-se dizer que a trama gira em torno da esperança de que ele recupere sua humanidade e que seu lado humano (ou o que sobrou dele) consiga ter o controle sobre a máquina.
Robocop surgiu em uma época onde a tecnologia era temida por muita gente, as pessoas morriam de medo só de imaginar que o futuro fosse tomado por máquinas e que estas se tornassem muito superiores ao resto da população em termos trabalhistas e intelectuais. O reflexo disso no filme de 87 é que ele chega até mesmo a ser bizarro com uma visão exagerada, porém realista de como robôs tendem a ser usados no futuro, e podemos até mesmo dizer que algumas coisas estavam certas quanto a utilização de máquinas de combate.

Os efeitos especiais eram tão bonitos que o filme não conseguiu ficar datado, até mesmo a movimentação em stop-motion do robô assassino ED-209 é um charme a parte hoje em dia, sem falar que torna o maldito muito intimidador.
A armadura de Robocop que o ator Peter Weller usava nas filmagens era extremamente desconfortável, pesada e quente, ele é considerado até hoje um dos atores a fazer um dos papéis mais difíceis do mundo, e o próprio Peter afirma que poucos atores sofreram ou vão sofrer como ele em um estúdio.

Robocop teve um impacto inacreditável na época em que saiu, as pessoas estavam depressivas e sem motivação em plena era Raegan, com as grandes industrias intimidando qualquer vestígio de crescimento ao seu redor.


E então chegamos ao filme Robocop de 2014

Eu confesso que estava atolado em preconceito quanto a esse filme, o trailer que havia saído um tempo antes do lançamento simplesmente me deixou decepcionado e eu não esperava nada além de um mero blockbuster.

Então percebi que ele estava sendo muito bem elogiado, e até mesmo recebi uma certa insistência de um amigo para deixar meu preconceito de lado (mas isso é um pouco difícil quando a insistência vem de uma pessoa que acha filmes atuais melhores do que os antigos). E é por causa disso que antes de falar do novo Robocop eu pretendo fazer uma observação sobre o cinema atual e o das décadas passadas.

O que você espera de um filme hoje em dia? Quando você vai ao cinema, espera ver alguma coisa além de CGI nos efeitos especiais, ou uma história que por mais que marque você será esquecida pela maioria?
Uma coisa que ficou mais do que clara nos últimos anos é que a partir do momento em que Hollywood percebeu que entramos em uma era onde QUALQUER coisa pode criar vida nas telonas, uma onda massiva de mesmices enlatadas choveu nas bilheterias, o resultado foi que aos poucos nos acostumamos e praticamente nenhum filme nos surpreende mais, porque...oras, você SABE que não existem mais monstros impossíveis de serem criados, cenários fantásticos são maravilhosamente ultra-detalhados, e isso é o mínimo que alguém espera de um filme fantástico.
Por um lado, podemos dizer que atingimos um grande novo patamar dos efeitos visuais, mas por outro já podemos dizer que é o mesmo que estar sonhando e sabermos que é um sonho, já que a técnica de criação será sempre a mesma.

Então, imagine agora em tempos modernos, onde todo mundo está acostumado com tecnologia e a sua maior preocupação é se o motoqueiro que entrega a sua pizza errar o caminho.
O quanto um Robocop significa hoje em dia? E mesmo que ele tenha uma crítica forte a fazer, ela vai ter algum efeito sobre a população?

Acreditem em mim, o novo filme se enquadra logo na segunda situação acima.
Eu devo dizer que fico muito orgulhoso que o remake de Robocop tenha sido dirigido logo por José Padilha, consagrado graças ao marcante Tropa de Elite. Fico mais orgulhoso ainda ao perceber que o diretor brasileiro não tentou recriar o filme de 87, mas sim fazer um equivalente para os dias modernos, tendo um outro ponto de vista e um alvo de crítica muito mais socialista.

Agora Alex Murphy não morre crivado de balas, ele tem seu corpo inutilizado graças a explosão de seu carro, tramada por uma gangue da qual mandou seu parceiro para a UTI em um tiroteio. Detroit é um linda cidade futurista que se encontra dividida entre a aceitação de robôs policiais nas ruas e a aversão da maioria às máquinas.
Para conseguir uma aceitação do público, a ideia de uma máquina com mente humana é cogitada e o projeto Robocop entra em ação graças ao financiamento da OCP com um genioso médico que trabalha com próteses mecânicas de altíssima complexidade.
O maior diferencial aqui é que o nosso novo Robocop começa exatamente como um humano, sendo limitado apenas pelo fato de seu corpo ser de metal e suas expressões faciais estarem reduzidas, o rosto de Murphy também é mostrado com muita frequência, um contraste ao filme antigo onde o personagem so tinha sua boca visível.
É curioso ver como agora, justamente quando a historia mostra uma máquina precisando receber aceitação do público, o produto vendido é quase inteiramente humano.
Nós temos também um destaque para a família do protagonista, que ao invés de abandoná-lo, procuram uma chance de fazer as coisas voltarem a ser o mais próximo do que eram antes.

Agora não temos uma programação americana mais cínica e estúpida na TV, no lugar vemos um noticiário sensacionalista que tenta convencer a população americana a aceitar o uso de máquinas, a ideia funciona e conseguimos ter uma boa noção de como a informação que nos é passada quase nunca condiz com a realidade.
O desprezo pelo valor humano é tão bem explorado quanto no filme clássico, me arrisco até a dizer que é muito mais bem embasado, nós sabemos muito bem o que é importante para cada personagem na trama e na maioria das vezes vamos nos identificar com certas atitudes e reações tomadas por eles.

O aspecto do Robocop foi o que incomodou muita gente, eu mesmo digo que não só neste filme mas em qualquer outro filme moderno a tecnologia futurista que nos é apresentada não me agrada nem um pouco, tudo é polido, tudo reflete, tudo é simplista, exatamente como a tecnologia que temos agora (é a lógica das coisas eu sei, faz todo sentido um robô policial ser ágil e mais leve do que pesado e lento, mas o que é atual é tão sem graça... >.<).

O novo Robocop é de longe um filme muito menos frio e também triste em poucos aspectos, ele se foca em um lado frenético da ação em alguns momentos e mesmo trazendo uma crítica totalmente contextuada e até mesmo mais forte para os nossos tempos muito provavelmente não vai significar muito para os telespectadores atuais. Como eu disse, nós estamos em uma geração onde nada mais impressiona e as coisas tendem a piorar cada vez mais, o surgimento de tantos remakes, reboots e adaptações já comprova isso.  


Então é isso minha gente, eu recomendo o filme, se você está pensando no que ver no cinema eu acho que Robocop é uma boa pedida, tente vê-lo como um outro filme, uma versão moderna e não o mesmo de 87, eu garanto que será satisfatório.



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